domingo, 19 de dezembro de 2010

Porque hoje é Domingo… (O livro e as pedras)



O livro e as pedras

Há por aí muito boa gente que fala de obra feita quando se refere à ARPIAC. E fala bem, pois que, em tese, por muito pouco que se faça, sempre se faz alguma coisa.

Longe de nós a ideia de refutarmos, liminarmente, essas falas, não reconhecendo o trabalho que desde a constituição da ARPIAC os sucessivos dirigentes e associados desenvolveram.

Contudo, um pouco do vosso tempo e da vossa paciência para nos acompanharem num pequeno exercício que melhor ilustre uma das principais razões pela qual vale a pena votar na Lista A.



Vamos supor que nos dirigimos a uma livraria para adquirir uma obra de um escritor de nomeada. Escolhemos o livro, maravilhosamente encadernado em couro, bem trabalhado, com impressão na lombada gravada a fogo e com o papel destinado à impressão do texto da melhor qualidade. Uns amigos até nos ajudaram a comprar esse livro. Claro que nos deu algum trabalho encontrar o local onde o livro se vendia e a convencer os nossos amigos a contribuírem para a compra, mas explicando-lhes os objectivos que alcançaríamos com a leitura do livro, foram simpáticos.

Já em casa, comodamente instalados, decidimos inaugurar o livro, ou seja, decidimos começar a lê-lo, para o que nos rodeámos de todas as condições para o podermos fazer de uma forma asséptica, que é como quem diz, com boas condições de luz, tecnicamente colocada para não criar sombras, um encosto de cabeça para impedir uma fadiga excessiva.

E, com tudo pronto, abrimos o livro e começamos a passar as páginas, lentamente primeiro, mais depressa, cada vez mais depressa, ainda mais depressa, ansiosos, desesperados… O livro estava em branco! Não tinha a-bso-lu-ta-men-te nada escrito.

Parecia um Livro, mas não era um livro. Não tinha alma. Não tinha humanidade. Era uma coisa.



Deixemos agora a nossa casa e esqueçamos o livro. Vamos ao edifício moderno onde a ARPIAC está instalada. Um edifício moderno, com relativas boas condições, com iluminação adequada e com uma assepsia quase perfeita. Também aqui, os amigos, os cidadãos contribuintes, ajudaram com os subsídios a comprar, a construir aquele edifício. Mas, à semelhança do livro, quando o começamos a percorrer, encontramos uma boa construção e muito boas ajudas técnicas, não lhe encontramos é alma. Não sentimos humanidade.

Não sentimos diálogo, não sentimos calor, não sentimos solidariedade, não sentimos respeito, não sentimos igualdade, não sentimos liberdade, não sentimos… Apenas nos apercebemos de pessoas que esperam… Esperam… E esperam…

Algo nos transmite a sensação desconfortável que cada uma das pessoas que ali está se sente institucionalizada. Cada uma na sua cama, na sua cadeira, aguarda as rotinas do dia-a-dia.

Claro que as pessoas não são mal tratadas! Claro que lhes é proporcionado o melhor conforto possível! Claro que as refeições, os tratamentos e a higiene são feitas a tempo e horas. Claro que por vezes os funcionários, de fugida, lhes fazem alguma carícia ou dizem: Então Sr.ª Maria como estamos hoje?... Mas, muitas vezes, nem esperam uma resposta. Também (e a culpa não é deles) não têm tempo para ouvir a D. Maria, a quem a família só vem visitar de tempos a tempos. É que o Sr. José, sentado uns metros mais à frente, precisa, devido à sua incontinência, de ajuda. É a falta de tempo. É a rotina instalada que desumaniza.

Claro que aquelas pessoas se não sentem no seu Lar. Claro que é preciso que “aquele livro” (aquele edifício) não fique em branco, é preciso dar-lhe conteúdo, para o humanizar. É preciso que dentro daquelas pedras aquelas pessoas se sintam pessoas.


Claro que é preciso, é urgente, HUMANIZAR AS PEDRAS!

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